Informações para a população (Releases)

A especialidade médica essencial de que muitos ainda não ouviram falar

Categoria: Informações para a população (Releases) Publicado por: editorst Publicado em: 02/12/2025

A especialidade médica essencial de que muitos ainda não ouviram falar

 

Há poucas semanas, a Dra. Carla Bartosch, presidente da Sociedade Portuguesa de Anatomia Patológica, publicou um artigo em um portal de notícias português lembrando algo frequentemente ignorado: a especialidade que sustenta grande parte dos diagnósticos que salvam vidas – a Patologia – permanece invisível para a maior parte da população. Ao ler o texto, é impossível não reconhecer o espelho brasileiro. Aqui, o patologista também é decisivo para o cuidado em saúde, mas distante do reconhecimento público e, muitas vezes, das prioridades da gestão.

Na prática, nada acontece na jornada do paciente sem o patologista. Um oncologista só informa o tipo de câncer, define o estadiamento, estima agressividade tumoral e escolhe o tratamento porque, antes, outro médico – o patologista – analisou lâminas de biópsia, interpretou alterações celulares, integrou dados clínicos e estabeleceu o diagnóstico que orienta toda a estratégia terapêutica. Assim, a Patologia é a especialidade que determina os rumos do tratamento e, sobretudo, as chances de cura.

Mesmo assim, como em Portugal e em muitos países, somos poucos. A Demografia Médica 2025 mostra que o Brasil possui 4.424 patologistas, o que representa 2,08 especialistas por 100 mil habitantes. A distribuição é profundamente desigual: mais da metade está no Sudeste, enquanto o Norte reúne apenas 3,6% desses profissionais. Além disso, quase dois terços atuam nas capitais, deixando grandes áreas do interior com acesso limitado ou inexistente ao diagnóstico anatomopatológico.

Essa é uma lacuna que pesa ainda mais em um país onde a carga de câncer cresce de forma contínua e acelerada como o Brasil, com projeções indicando que a doença será a principal causa de morte nos próximos anos e já ocupa esse posto em muitos municípios. Tal cenário exige diagnósticos precisos, bem estruturados e integrados a novas tecnologias, para orientar terapias cada vez mais complexas.

No lado brasileiro do Atlântico, o Sistema Único de Saúde (SUS), responsável por 80% dos atendimentos oncológicos, enfrenta desafios adicionais: infraestrutura desigual entre os serviços, dificuldade de incorporar tecnologias essenciais (como os exames de imuno-histoquímica, de biologia molecular e a Patologia digital) e baixa remuneração dos exames anatomopatológicos. Esses são fatores que impactam diretamente a qualidade e a velocidade dos diagnósticos, justamente num momento em que a complexidade das doenças exige cada vez mais precisão.

Este ano, em diálogo direto com a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), o Ministério da Saúde anunciou medidas que colocam, enfim, o diagnóstico no centro da política oncológica. Cerca de R$ 60 milhões anuais, via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS), serão destinados à modernização e qualificação de laboratórios públicos, garantindo laudos mais rápidos e mais seguros.

E, a partir de 2026, haverá um edital com bolsas diferenciadas para residentes de Patologia, uma iniciativa pensada para tornar a especialidade mais atrativa aos estudantes de Medicina e estimular novos talentos a ingressarem na área. Trata-se de um reconhecimento inédito do Estado de que enfrentar a carência de patologistas começa ainda na graduação, aproximando os jovens médicos de uma especialidade estratégica para o futuro da saúde.

Tudo isso ocorre enquanto a Patologia vive uma transformação global. Como destacou a colega portuguesa, a inteligência artificial já auxilia na leitura de lâminas, na identificação de tumores e na estratificação de risco oncológico. No Brasil, essa revolução também avança, ainda que de forma desigual. Para que a IA seja um vetor de equidade, e não de ampliação das desigualdades regionais, será indispensável investir em infraestrutura digital e capacitação profissional contínua. A boa notícia é que nossa comunidade científica está se preparando: a própria SBP tem expandido sua oferta de cursos com foco em atualização científica e prática.

No fim das contas, concordo plenamente com a Dra. Carla: a Patologia não aparece em séries de televisão, não protagoniza cenas de emergência e raramente ocupa o imaginário popular. Mas é uma especialidade silenciosa e decisiva, que sustenta decisões essenciais em saúde, nos principais centros urbanos e também nas regiões mais afastadas.

Se o Brasil deseja enfrentar o câncer e tantas doenças prevalentes, o caminho é claro: ampliar vagas de formação em Patologia, valorizar carreiras, modernizar laboratórios públicos e distribuir especialistas de forma mais equilibrada entre as regiões. É assim que garantimos a mais pessoas aquilo que nossa Constituição promete: o direito à saúde.

E esse direito, convenhamos, vale muito mais do que qualquer glamour de tela.

 

Dr. Gerônimo Jr.
Presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP)

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