Novembro Azul
Inovação diagnóstica e integração de especialidades aumentam precisão na detecção do câncer de próstata no Brasil
Especialistas da Sociedade Brasileira de Patologia e do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem explicam como avanços científicos e tecnológicos, aliados a uma abordagem multidisciplinar, estão redefinindo o diagnóstico do tumor frequente na população masculina.
Os números são preocupantes. Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam que o Brasil deverá registrar cerca de 71.730 novos casos anuais de câncer de próstata no triênio 2023–2025, o equivalente a 67,86 casos por 100 mil homens. O tumor representa, sozinho, cerca de 30% de todos os novos diagnósticos de câncer masculino no país.
Neste Novembro Azul, especialistas da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) destacam como avanços científicos e tecnológicos na Medicina e ferramentas de inteligência artificial (IA) estão elevando a precisão diagnóstica e permitindo intervenções mais precoces.
Segundo o Dr. Maurício Zapparoli, radiologista e diretor científico do CBR, a ressonância magnética se tornou um dos pilares dessa transformação: “A ressonância evoluiu muito nos últimos anos. Antes da biópsia, fazemos a ressonância para estratificar o risco do paciente. Com isso, conseguimos reduzir em torno de um terço os pacientes que realmente precisam de biópsia.”
A ressonância atuando como ‘GPS’ é reforçada pela Dra. Isabela Werneck, uropatologista e membro da SBP: “Com as imagens precisas fornecidas pela ressonância, conseguimos direcionar a biópsia exatamente para as regiões mais suspeitas. Isso reduz biópsias desnecessárias, evita falsos negativos e diminui a necessidade de repetir o procedimento.”
Ela explica que, embora o exame de imagem identifique áreas suspeitas, é o estudo anatomopatológico que confirma o diagnóstico: “Quem vai dizer se a pessoa tem câncer ou não é o patologista. O diagnóstico definitivo vem da análise do material da biópsia.”
O avanço tecnológico mais disruptivo, segundo os especialistas, está na integração da IA ao trabalho de radiologistas e patologistas. No campo da imagem, a IA atua em três frentes: na melhoria da qualidade da imagem durante a aquisição, tornando o exame mais rápido e confortável; no apoio à detecção, auxiliando o radiologista a identificar áreas suspeitas com maior precisão; e na fusão de imagens, integrando ultrassom e ressonância para guiar biópsias de forma mais exata.
Na Patologia, a Dra. Isabela destaca o impacto do diagnóstico digital: “Hoje temos scanners que digitalizam lâminas de biópsia, e podemos compartilhar essas imagens instantaneamente com qualquer lugar, permitindo que regiões sem especialistas agora tenham acesso a estes médicos”.
Dados da Demografia Médica 2025, da Associação Médica Brasileira (AMB), mostram que o Brasil possui 4.424 patologistas, o que representa 2,08 especialistas por 100 mil habitantes. A distribuição é profundamente desigual: mais da metade está no Sudeste, enquanto o Norte reúne apenas 3,6% desses profissionais. Ademais, quase dois terços atuam nas capitais, deixando grandes áreas do interior com acesso limitado ou inexistente ao diagnóstico anatomopatológico.
“Além disso, com a inteligência artificial, identificamos regiões suspeitas com mais rapidez, o que agiliza o laudo”, acrescenta a especialista. Segundo ela, com esses recursos, análises que antes exigiam até cinco dias agora podem ser concluídas em dois ou três dias, reduzindo a ansiedade do paciente e acelerando o início do tratamento quando necessário.
Superando tabus, reforçando a prevenção – Apesar de tantos avanços, o câncer de próstata ainda apresenta índice de mortalidade elevado no Brasil. Em 2020, foram 15.841 óbitos, correspondendo a 15,30 mortes por 100 mil homens, segundo o INCA. O principal fator associado a esse cenário é o diagnóstico tardio.
O Dr. Maurício destaca que, além do progresso da Medicina e da tecnologia, é preciso quebrar barreiras culturais: “O exame de toque faz parte do exame físico do urologista. É rápido, indolor e essencial para indicar exames complementares como o PSA, a ressonância e, quando indicado, a biópsia. Mas muitos ainda têm preconceito.”
A Dra. Isabela reforça: “Mesmo sem sintomas, homens acima de 50 anos, ou mais cedo, se houver histórico familiar, devem conversar com o urologista para decidir, de forma compartilhada, sobre o rastreamento.”
Embora muitos casos evoluam de forma silenciosa, alguns sinais podem servir de alerta: dificuldade para urinar; jato urinário fraco; aumento da frequência urinária, especialmente à noite; e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga. Em fases mais avançadas, podem surgir dor óssea, sangue na urina ou no sêmen e perda de peso inexplicada. Os especialistas lembram que a ausência de sintomas não significa ausência da doença, reforçando a importância da avaliação regular.
Um convite à reflexão e à ação – Esses temas foram aprofundados em um episódio especial de O Patologista em Podcast, da SBP, que recebeu o especialista do CBR para discutir como a tecnologia e o trabalho multidisciplinar de radiologistas, patologistas e outros médicos especialistas estão redefinindo o diagnóstico do câncer de próstata no país.
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