Raio-X da especialidade
Sociedade Brasileira de Patologia divulga primeiro retrato nacional do médico patologista, especialista responsável pelo diagnóstico do câncer
Levantamento inédito ouviu patologistas associados, ex-associados da SBP e residentes de Patologia de todo o País, revelando percepções sobre formação, carreira, remuneração, desafios profissionais e avanços tecnológicos na especialidade.
São Paulo, setembro de 2025 – Pela primeira vez, o Brasil conta com um retrato abrangente do médico patologista, especialista responsável pelo diagnóstico do câncer e de diversas outras doenças. A Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) encomendou uma pesquisa inédita, intitulada Perfil do Patologista Brasileiro, para mapear a realidade da especialidade na visão de associados, ex-associados e residentes da área.
As entrevistas foram realizadas entre julho e agosto deste ano, por meio de questionários online aplicados pela empresa de pesquisa e consultoria Santa Dica, reunindo 470 respostas de associados, 52 de ex-associados e 51 de residentes de Patologia de todas as regiões do País. O objetivo foi captar percepções e expectativas sobre formação, prática profissional, infraestrutura, tecnologia, remuneração e atuação da SBP.
“Nosso propósito é alinhar a gestão da entidade às necessidades reais da comunidade de patologistas. Com esses resultados, poderemos direcionar de forma mais eficaz nossas ações estratégicas, fortalecendo a especialidade e ampliando o impacto da atuação da SBP”, afirma o presidente da entidade, Dr. Gerônimo Jr.
Ele ressalta que a Patologia enfrenta desafios como o pouco interesse de acadêmicos de Medicina pela área, o que gera déficit de especialistas em regiões como o Norte e o interior do País, atrasando diagnósticos, piorando as desigualdades no acesso ao tratamento e comprometendo o prognóstico de diversas doenças, dentre elas, principalmente o câncer.
Atualmente, no Brasil, existem apenas 2,08 médicos patologistas para cada 100 mil habitantes, número bem abaixo do ideal estimado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que seria de 5 a 6 patologistas a cada 100 mil habitantes. Hoje no País existem apenas 4.424 patologistas, segundo dados da pesquisa Demografia Médica no Brasil 2025, realizada pelo Ministério da Saúde, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pela Associação Médica Brasileira (AMB).
A defasagem da tabela de remuneração do Sistema Único de Saúde (SUS) para exames anatomopatológicos também é apontada pelo presidente da SBP como um obstáculo relevante. Em 2019, uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) já havia identificado o atraso dos diagnósticos histopatológicos como um dos principais gargalos na linha do cuidado oncológico. No contexto atual, o SUS paga apenas R$40,78 por cada exame – fundamental e necessário para o diagnóstico confirmatório de câncer – um valor absolutamente desproporcional à complexidade e importância do procedimento.
De acordo com Kim Macherini, coordenador da Santa Dica, empresa de pesquisa contratada, “Os dados permitem estimativas confiáveis das percepções dos públicos consultados, com margem de erro reduzida, garantindo que os resultados reflitam a realidade da comunidade de patologistas e residentes”, explica.
Principais achados – O levantamento confirmou problemas já conhecidos, como sobrecarga de trabalho, baixa valorização e baixo reconhecimento da especialidade, e trouxe novos elementos que reforçam o planejamento estratégico da SBP. Entre os patologistas associados e ex-associados que participaram da pesquisa:
Perfil acadêmico e formação
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59,8% formaram-se em universidades públicas e 38,7% em instituições privadas.
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97% registraram seu título de especialista junto ao Conselho Regional de Medicina.
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67% lecionam, a maioria em universidades públicas.
Condições de trabalho
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87,4% atuam na iniciativa privada e 44,7% na esfera pública.
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83,6% avaliam como adequada ou muito adequada a infraestrutura de trabalho.
Uso de tecnologia (Telepatologia)
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47,7% já utilizam Telepatologia com frequência ou ocasionalmente.
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84,8% avaliam positivamente seu nível de conhecimento nessa área.
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Quase 95% acreditam que a Telepatologia pode melhorar a qualidade e a equidade do diagnóstico no Brasil.
Remuneração e satisfação com a carreira
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49,6% classificam a remuneração como adequada ou mais que adequada, enquanto 50,4% a consideram insatisfatória.
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81,7% estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a escolha da especialidade.
Entre os residentes, mais de 90% afirmam estar satisfeitos com a escolha da especialidade, embora relatem dificuldades relacionadas à infraestrutura e ao acesso a práticas como necrópsias e Patologia molecular, importantes para uma formação mais completa e de qualidade. Os dados da pesquisa reforçam, portanto, a necessidade e a importância de iniciativas que enfrentem esses desafios.
É importante destacar que a SBP possui o Fórum de Ensino de Patologia (FEP), criado em 2019, o qual reúne mensalmente online professores, residentes e acadêmicos de Medicina de todo o Brasil, com o objetivo de discutir e propor ações voltadas ao aprimoramento do ensino-aprendizagem da especialidade.
Subsídio para a gestão – Os participantes avaliaram a atuação da SBP, e 67,7% consideram a sociedade atuante ou muito atuante, principalmente em programas de aperfeiçoamento profissional, eventos científicos e defesa da categoria junto ao Ministério da Saúde e ao setor público. Entre os pontos fortes, destacam-se a organização de congressos, a atualização profissional e a educação continuada, com programas como o SBP Online, que oferece aulas mensais com especialistas; o SBP na Estrada, com cursos itinerantes de Patologia Mamária e de Patologia Gastrointestinal em várias cidades do Brasil; e o SBP Digital, com cursos online de várias subespecialidades como Hematopatologia, Neuropatologia e Patologia Torácica. Essas iniciativas reforçam o compromisso da SBP com a formação, atualização e o fortalecimento da especialidade.
Entre os desafios apontados pela pesquisa, destacam-se a necessidade de ampliar a defesa profissional e a representatividade da categoria, além de reforçar a valorização do patologista e a comunicação institucional. Para enfrentá-los, a SBP tem se reunido com frequência com a Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES) do Ministério da Saúde, discutindo questões como déficit de patologistas, remuneração e infraestrutura, e propondo ações conjuntas. Recentemente, a SAES firmou um contrato via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional (PROADI) do SUS com o A.C. Camargo Cancer Center e o apoio da SBP para fortalecer a rede oncológica nacional, incluindo investimentos de cerca de R$60 milhões por ano para a Patologia.
Apesar dos desafios, o engajamento da comunidade segue elevado: 91,3% dos associados acessaram o site da SBP nos últimos seis meses e dois terços acompanharam o periódico O Patologista, confirmando a relevância das iniciativas de informação, integração e atuação estratégica da sociedade.
Para a diretora de Comunicação da SBP, Drª Gisele Lumy Iguma, os dados oferecem uma base sólida para a gestão: “Boa parte do resultado da pesquisa confirma o que observamos no dia a dia, mas outros pontos revelaram aspectos que antes não eram tão evidentes. Este retrato será fundamental para aprimorar programas, fortalecer a defesa profissional e planejar ações direcionadas às necessidades reais dos patologistas e residentes.”
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