Como vimos antes (Veja o texto anterior aqui), as origens da patologia se misturam a da própria medicina, milhares de anos atrás. De lá para cá, a especialidade passou por diversas fases, conforme o conhecimento científico foi evoluindo. Mais do que incorporar avanços e técnicas, o que permitiu o crescimento da patologia foi o trabalho árduo dos patologistas, profissionais que sempre estudaram incansavelmente os mistérios do corpo.
Como não podia deixar de ser, começamos na Grécia Antiga com Hipócrates (460 a.C. – 377 a.C.). Por mais que exista controvérsia em atribuir o título de patologista ao “pai da medicina”, foi a partir da teoria humoral proposta por ele que a civilização ocidental fez sua primeira tentativa de entender o funcionamento do organismo humano e a mecânica de seu adoecimento.
Depois vamos para Roma, onde surge Cornelius Celsus (25 a.C. — 50 d.C.), que registrou os sinais cardinais da inflamação: dor, calor, rubor e tumor. Ele também descreveu procedimentos cirúrgicos romanos do primeiro século, como a remoção de catarata, tratamento de pedra na bexiga e a consolidação de fraturas.
Avançando, temos Galeno de Pérgamo (129 – 201 d.C), um dos principais nomes da medicina, responsável por avanços como o exame direto. Seus estudos como dissecação e análise anatômica em animais vivos foram fundamentais para a patologia e ele ainda foi o primeiro a descrever o crescimento “no formato de caranguejo” do que depois seria chamado de câncer.
O período entre Galeno e a Alta Idade Média foi marcado pela influência de médicos árabes. Entre os principais estão Aécio de Amida (502 – 575), médico do imperador Justiniano que deixou excelentes descrições de carcinomas do útero, hemorroidas, condilomas, fissuras e de úlceras do reto e Avenzoar (1070 – 1162), que descreveu o câncer do esófago e do estômago com bastante precisão, além de outras lesões.
Então chegamos ao momento na história em que a patologia passa a despontar como especialidade em si, separada do restante da medicina. A principal figura dessa guinada é Antonio Benivieni (1443 – 1502), médico florentino que foi o primeiro a colher sistematicamente dados de autópsias realizadas em seus pacientes.
Depois dele, a lista continua extensa. Alguns deles são Andreas Vesalius (1514 – 1564), que revolucionou a anatomia procurando associar função com estrutura anatômica, e Jean Fernel (1497 – 1558), patologista que classificou doenças (gerais e especiais), assim como sintomas distintos e sinais.
No século XVIII, a medicina começou a ser mais aperfeiçoada e, com isso, a patologia ganhou um papel cada vez mais importante, com diversos estudos despontando em livros e periódicos. Entre os principais nomes desse período estão gigantes, como Giovanni Batista Morgagni (1682 – 1771), anatomista italiano pioneiro na demonstração da necessidade de basear o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento no exame detalhado das condições anatômicas do paciente, considerado o fundador da anatomopatologia.
John Hunter (1728 – 1793), por sua vez, introduziu a reprodução experimental das doenças e François Marie Xavier Bichat (1771 – 1802) estudou a composição tecidual dos órgãos por meio de métodos simples, identificando 21 tecidos diferentes no ser humano, sendo considerado o “pai da histologia”.
Depois temos especialistas responsáveis pelo aprimoramento das técnicas utilizadas até hoje na patologia. De maneira ampla, temos Edwin Klebs (1834-1913), patologista que introduziu a parafina aos cortes dos materiais estudos, Issac Blum (1833-1903) e seu filho Ferdinand Blum (1865-1959), defensores da solução de formaldeído (formol), e Paul Ehrlich (1854-1915), que aprofundou os estudos sobre os processos de coloração de células e tecidos, expandindo o repertório de corantes disponíveis.
No século XX, a patologia se encontrava em crescimento acelerado e o número de descobertas crescendo juntamente com o número de descobridores. Alguns destes são Ludwig Aschoff (1866-1942), desenvolvedor do conceito do sistema reticuloendotelial, Nikolai Anitschkov (1885-1964), descrevendo a histopatologia do coração, e Albert Coons (1912-1978), imunologista que descobriu técnicas de imunofluorescência.
Em sua jornada histórica, a patologia buscou o apoio desses grandes profissionais. Entretanto, entre todos esses gigantes existe um que se destaca: Rudolf Ludwig Karl Virchow (1821 – 1902). Considerado a maior figura na história da patologia, ele foi um dos primeiros a utilizar o microscópio, um dos principais avanços da óptica em seu tempo, para analisar tecidos.
No próximo texto você vai saber um pouco mais sobre a microscopia e essas outras técnicas divisoras de águas na especialidade. Não deixe de conferir!