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Entendendo a febre amarela

Categoria: Notícias Publicado por: admsbp Publicado em: 15/02/2017

A febre amarela é causada pelo vírus de mesmo nome, um vírus composto por RNA, que pertence ao gênero flavivirus (assim como o vírus da Dengue), transmitido ao homem através da picada de mosquitos Aedes aegypti (no ciclo urbano) ou Haemagogus (no ciclo silvestre).

No ciclo silvestre, o vírus é transmitido entre primatas, através da picada do mosquito. O homem pode se infectar ao adentrar a mata onde ocorram casos entre primatas, adquirindo a febre amarela pela picada de mosquito infectado a partir de um macaco doente. No ciclo urbano, o mosquito infectado pelo vírus transmite-o entre humanos. O último surto registrado de febre amarela urbana no Brasil foi no início dos anos 1940, no Acre.

Desde o início de janeiro de 2017, o Brasil vivencia um surto de febre amarela, que se iniciou no estado de Minas Gerais, além de afetar os estados do Espírito Santo e São Paulo, com casos suspeitos na Bahia e Tocantins. Até o momento, são mais de 110.000 casos suspeitos, com mais de 70 mortes atribuídas à febre amarela, a maioria em Minas Gerais, onde foi decretado estado de situação de emergência em saúde pública.

O quadro clínico da febre amarela é bastante variado: desde sintomas característicos de uma virose sistêmica aguda e auto-limitada (febre, calafrios, dor de cabeça severa, dores musculares nas costas e nos membros, dor abdominal, náuseas e vômitos, fadiga intensa) a uma forma grave da doença. A principal complicação da febre amarela é a hepatite grave (figura 1), fulminante, que pode causar icterícia (quando a pele e as mucosas se tornam amarelo-esverdeadas), edema cerebral, disfunção renal, alterações na coagulação sanguínea, com sangramentos em diversos órgãos, choque e disfunção de múltiplos órgãos, levando o indivíduo infectado ao óbito.

O diagnóstico definitivo da febre amarela é feito através da história epidemiológica do paciente e de exames laboratoriais como sorologia e biologia molecular (como a técnica de PCR, que identifica o material genético do vírus no sangue e nos tecidos dos doentes).

Até o momento, a febre amarela não tem tratamento específico. Os casos que apresentam sintomas discretos devem repousar e receber líquidos para hidratação e sintomáticos como antitérmicos e analgésicos (evitar aspirina e anti-inflamatórios que podem precipitar hemorragias). Casos graves devem ser tratados em ambiente hospitalar, podendo necessitar de cuidados de terapia intensiva, tais como ventilação mecânica (por aparelhos), hemodiálise (para suprir a função renal), reposição de fatores de coagulação e plaquetas (para evitar sangramentos) e prevenção do edema cerebral.

A prevenção da febre amarela é feita através de medidas que evitem a picada do mosquito (uso de roupas que cubram o corpo, repelentes aplicados no ambiente e na pele exposta, ambiente com ar-condicionado, mosquiteiros). Os indivíduos com febre amarela devem permanecer em repouso em casa, em leito com mosquiteiro, por até 5-7 dias após início da febre, para evitar a transmissão do vírus ao mosquito e, assim, manter o ciclo de transmissão. A vacina para o vírus da febre amarela é muito eficaz na prevenção de casos, feita com vírus vivo atenuado e está indicada a partir dos 9 meses de idade. As reações vacinais mais comuns são: febre baixa, mialgias e cefaleia. Reações mais graves são raras e incluem alergias e doenças neurológicas. A vacina está contra-indicada naqueles com alergia aos componentes da vacina, idade menor que 6 meses e imunocomprometidos (como pacientes com AIDS, baixa contagem de linfócitos T CD4+, transplantados, neoplasias avançadas, uso de imunossupressores e imunodeficiências primárias).

E qual o papel do médico patologista na epidemia de febre amarela?

O papel do patologista recai no diagnóstico definitivo da infecção e nos casos graves, que vão à óbito. A confirmação do óbito de febre amarela é feita através da autópsia, onde o patologista coleta amostras de tecido para estudo histopatológico e para a detecção do vírus através da cultura viral e de técnicas de biologia molecular. Com o diagnóstico firmado, o resultado da autópsia será de extrema importância para a saúde pública, para localizar as áreas de transmissão da febre amarela e tomar as medidas necessárias para a sua prevenção (como a vacinação da população, por exemplo), além de estudar a fisopatogenia da doença. A autópsia é um procedimento médico de grande importância, quando há óbitos por causa desconhecida, incluindo aqueles por doenças infecciosas por agentes desconhecidos ou no início de um surto de doença infecciosa.

fotomicrografia de fígado normal e de paciente com febre amarela

Figura 1: Fotomicrografia de fígado normal (imagem da esquerda) e de paciente com febre amarela fatal (à direita). Os principais achados microscópicos da febre amarela no fígado são a extensa destruição dos hepatócitos (as principais células do órgão – seta azul) e uma reação inflamatória portal (seta verde). Em comparação com a imagem da esquerda, pode-se observar a completa desorganização do tecido hepático.

Dr. Amaro Nunes Duarte Neto
Médico infectologista e patologista
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo 
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